Com ampla experiência de atuação no mercado de luxo, o arquiteto Ricardo Rossi, titular do escritório Ricardo Rossi Arquitetura e Interiores, traz em seu eclético portfólio projetos em diferentes áreas como: residencial urbano; praia e campo; comercial; corporativa; educacional; náutica; fazenda e haras; hotelaria; templos religiosos; monumentos; condomínios; edifícios; e cenários para TV e eventos.
O escritório já foi requisitado para realizar projetos em 17 estados brasileiros e no exterior teve trabalhos desenvolvidos nos Estados Unidos, na Mongólia e Bolívia. Nesta entrevista exclusiva, o arquiteto conta como iniciou no ramo da arquitetura, como faz para se manter atualizado no segmento de decoração e muito mais.
Conte um pouco da sua história, quando decidiu ser arquiteto?
Eu me lembro de que quando tinha 11 anos, falei pela primeira vez que gostaria de ser arquiteto. Os meus pais compravam muito daquele brinquedo “Lego” e recordo de montar diversas edificações em miniatura. Talvez isso tenha influenciado de alguma maneira.
O que é a arquitetura para você?
A arquitetura para mim é a criação e construção de sonhos e objetivos às vezes distantes para alguns. Poder materializar e fazer algo palpável e real nos traz um prazer e uma alegria muito grande. A arquitetura engloba praticamente tudo o que podemos imaginar; em nosso planeta as árvores, plantas, animais e inclusive os seres humanos foram projetados e arquitetados por Deus, Ele se mostrou ser o grande e maior arquiteto.
A boa arquitetura pode ser um item essencial para sermos felizes e realizados. Ela vai muito além do que construir casas e, para mim que sou apaixonado por essa profissão, ela está em quase tudo o que vejo e aonde vou, podendo trazer sensações agradáveis ou não. Por exemplo, se você vai ao médico, supermercado ou para a escola e a arquitetura for boa e agradável tudo vai funcionar melhor. A arquitetura tem uma importância muito maior na vida das pessoas do que elas imaginam.
Você realiza muitos projetos arquitetônicos de luxo, qual é o segredo para atuar bem nesse segmento?
Acredito que o fato de ser muito detalhista e sempre estar em cima dos projetos contribua bastante para ter um bom desempenho nesse nicho de atuação. Eu não lido com o projeto de forma comercial, gosto de estar por dentro de todos os processos e acompanhando tudo bem de perto. Confesso que esse trabalho se torna bem exaustivo, mas é um estilo que optei para que a obra fique realmente do jeito que nós desejamos. Claro que tudo isso sempre ouvindo o cliente e expondo também as nossas ideias, para que assim possamos chegar a um resultado final inusitado e satisfatório.
Projeto de Ricardo Rossi em residência localizada na cidade de São Paulo
Em sua opinião, como unir o luxo ao conforto?
Essa é uma vertente do nosso escritório, pois procuramos inserir um aspecto belo e agradável aos projetos em que realizamos e sempre com bastante equilíbrio entre o funcional e o estético. O luxo pode estar em coisas menores e mais simples do que a gente imagina. Em minha opinião, luxo é uma pessoa estar vivendo com algo que sempre sonhou e estar sendo feliz com isso. Existe uma visão de dicionário de que o luxo seja algo com custo alto, porém isso não é uma verdade absoluta para mim. Por exemplo, uma pessoa que tem a intenção de ter uma árvore no meio da sala, por remeter a algo do seu passado; para ela isso será um luxo. Portanto, o luxo está nos sonhos arquitetônicos que as pessoas conseguiram realizar independentemente do valor que elas despenderam com os mesmos.
E a união dos sonhos com o conforto eu denomino de luxo completo, mas o arquiteto é quem dá o tempero e o equilíbrio porque as vezes o cliente pode querer misturar A com B e essa talvez não seja a melhor opção.
Você costuma ousar bastante em seus projetos arquitetônicos. Qual é o segredo para utilizar essa ousadia na medida correta?
Realmente eu gosto de coisas diferentes e de sair da mesmice, então a ousadia para esse tipo de perfil é extremamente necessária. O segredo para que tenha uma ousadia bacana é o profissional ter um senso crítico legal e a segurança de fazer uma leitura diferenciada e acreditar nela. Eu me lembro de ter participado – há mais de 20 anos – de uma mostra no Shopping D&D, em São Paulo, e veio na minha mente utilizar o piso de madeira na parede (até então não me recordava de ter visto algo semelhante por aqui, lambril sim, mas piso de madeira não) e o resultado foi excepcional. Foi algo que muitos poderiam ficar com receio de aplicar na época, pois não se tinha referência no momento. Também no passado, me recordo de ter feito uma adega subterrânea e pensei porque não utilizar pedra de piso de calçada no teto (era pedra portuguesa) e o resultado ficou bárbaro. A experiência que vamos adquirindo também nos ajuda a ter mais confiança e minimizar os erros.
Em sua opinião, quais são as tendências do segmento de decoração?
Acredito que o cenário ideal seria se todos os projetos de decoração seguissem uma “coerência arquitetônica”. Pode ser que uma determinada novela ou filme destaque algum cenário e aquilo vire uma tendência para o público em geral. Porém, a principal tendência deveria resultar dos trabalhos profissionais que tem “coerência arquitetônica” em seus escopos. Não importa se o estilo está um pouco mais clássico ou não, se o foco é os anos 70 ou se está tudo misturado. O que vale realmente é o profissional saber mesclar determinadas cores, utilizar uma poltrona x e um sofá y de forma adequada e fazer tudo isso se encaixar dentro de uma “coerência arquitetônica”, esta é a palavra de ordem.
Você costuma utilizar bastante iluminação em seus projetos. Acredita que a luz seja uma grande aliada da arquitetura dos espaços?
Sim, sou extremamente fã da luz na dose certa. Sempre falo para os meus clientes no primeiro encontro que a iluminação é 70% do projeto arquitetônico. Não que seja exatamente essa porcentagem (creio que 50% seria o mais correto), mas demos uma ênfase grande para que entendam a real importância que ela tem no resultado final. Podemos fazer um belíssimo projeto, mas se não tiver uma iluminação correta é como se jogássemos o projeto fora. A iluminação adequada faz com que a pessoa queira permanecer no local devido ao acolhimento e aconchego; já determinados ambientes, mesmo que lindos, mas que não tenham uma iluminação correta, acabam estimulando involuntariamente o usuário a se deslocar para outro local. A iluminação precisa ser bem dosada e equilibrada e uma de suas grandes aliadas é a automação, onde a pessoa pode criar momentos, cenas e sensações.
Ricardo Rossi utiliza a iluminação como aliada nos projetos de arquitetura
Você utiliza muita integração e automação em seus projetos arquitetônicos? Por quê?
Sim. A automação proporciona, por exemplo, a oportunidade de ter a iluminação no astral que você deseja para aquele momento específico. Sem contar outras funções como cortinas, janelas, aquecimento, ar condicionado, som, TV, etc. A automação está extremamente ligada a emoção – e não apenas as facilitações – e ao bem estar dos usuários. Acho legal deixar o máximo de itens integrados e programados, pois quando o usuário vai assistir a um filme, por exemplo, ele baixa a cortina e a tela, e o ar-condicionado liga automaticamente, a luz fica a 5% de intensidade, enfim, tudo se ajusta para aquele momento específico. Se for fazer tudo isso isoladamente pode levar alguns minutos e o ideal é deixar tudo programado para fazer automaticamente em apenas um toque. Isso é conforto e ganho de tempo.
Qual é a dificuldade de realizar projetos arquitetônicos em espaços de praia?
O importante é adequar o projeto ao que é necessário no dia a dia do usuário que irá desfrutar do espaço. No caso de uma casa de praia, ele deve pensar em pisos mais rústicos onde a pessoa vai poder pisar com o pé molhado; além de selecionar sofás adequados para todos os tipos de usuários, haja vista que o imóvel pode receber crianças, por exemplo, e não seria interessante “controlar” quais ambientes elas poderiam desfrutar ou não, molhadas ou secas, enfim.
Como se mantem atualizado no segmento de arquitetura e decoração?
Acredito que atualmente com as redes sociais esteja mais fácil ficar antenado com os fatos que estão ocorrendo. Afinal, a maioria dos profissionais e empresas atualiza os seus perfis de uma forma muito mais rápida do que o próprio site, por exemplo. Basta o leitor saber filtrar e seguir o conteúdo que realmente lhe interessa.
Qual conselho você daria para quem pensa em estudar arquitetura?
Aconselho que a pessoa se dedique bastante, faça todos os cursos possíveis que sejam ligados a área como o de 3D; além de cursos de línguas estrangeiras (inglês). Atualmente vivemos em globalização e se não tiver o conhecimento de outro idioma fica muito complicado. Entretanto, considero ser de extrema importância os estágios, em minha opinião quando um aluno entra na faculdade já deveria estagiar, nem que o salário seja muito baixo. O grande diferencial dos profissionais está nos estágios que ele realizou. Eu falo isso inclusive para os meus filhos.
Também acho necessário a prática da observação, ou seja, quando estiver no transporte se deslocando para a faculdade, deixe o volume do rádio um pouco baixo e observe como aquele morador construiu o muro da casa dele; como a ponte está fixada, onde estão os pilares; que material foi utilizado na calçada; enfim. Tenho plena convicção de que a observação é um dos pontos mais importantes para o crescimento de um profissional na área de arquitetura.
Existe alguma dica de como o cliente escolher o profissional adequado para o seu projeto?
Acredito que o melhor jeito é conhecer a personalidade do profissional e saber como ele trabalha e efetua os seus projetos. Atualmente grande parte dos arquitetos são ativos nas redes sociais e mantem os seus perfis bem atualizados, com inúmeras fotos e vídeos de seus trabalhos. Após selecionar profissionais de sua preferência, pode ligar para eles e bater um papo para confirmar suas expectativas e então realizar os seus sonhos.